Ha Muito Tempo


Passos descalços restolhando pela estrada de macadame
Pernas curtidas descrevendo arcos desengonçados
O destino incerto, a dúvida quente
O céu descoberto, o futuro longe
E o passado incapaz de conter a ambição imprudente

Há muito tempo, há muito tempo
Demos tudo o que tivemos
Para agarrar o tempo

Teias de ferro fortificam a cidade industrial
Que se alimenta do suor dos corpos mecanizados
O aço temperado, a manufactura
O monstro acordado, o inconsciente activo
E ninguém sabe aonde irá desembocar a aventura

Há muito tempo, há muito tempo
Nós passamos tanto tempo
A estragar o tempo

Domingo à tarde, o planeta está colado à televisão
O astronauta domestica a lua com gestos lentos
O mar entulhado, o céu mais cinzento
A publicidade, o perigo iminente
E a sensação da alma não acompanhar o movimento~

Há muito tempo, há muito tempo
Ninguém fica indiferente
Ao sabor do tempo







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